O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade
"Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido."
É, por diversas vezes mencionado, o enorme progresso das ciências e das técnicas, enquanto, por outro lado, há também, referência obrigatória em relação à aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria. No entanto, todos esses são dados de um mundo físico fabricado pelo homem, explicações mecanicistas para a produção da história humana. A maneira como se produz esta história que é a verdadeira responsável pela criação dessa nossa era globalizada. Quando tudo permite imaginar que se tornou possível a criação de um mundo autentico que se aproveita do alargamento de todos os contextos para consagrar um discurso único. Seus fundamentos são a informação e o seu império, que encontram base na produção de imagens e do imaginário, e se põem ao serviço do império do dinheiro, fundado este na economização e na monetarização da vida social e da vida pessoal. Para escaparmos da crença que esse mundo é verdadeiro, é necessário considerarmos a existência de três mundos em um só: A globalização como fábula, a globalização como perversidade e uma outra globalização.
- O mundo tal como nos fazem crer: a globalização como fábula
É como se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da mão. Um mercado dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas.
- O mundo como é: a globalização como perversidade
A globalização é uma fábrica de perversidades para maior parte da humanidade. O desemprego crescente torna-se crônico, a pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida, a fome e o desabrigo está em todos os continentes, a educação de qualidade mais inacessível, e por ai vai.
- O mundo como pode ser: uma outra globalização
Podemos pensar em uma globalização mais humana, na construção de um outro mundo.
Bases materiais do período atual: unicidade da técnica, convergência dos momentos e o Conhecimento do planeta. Apesar do grande capital se apoiar nessas bases técnicas para construir a globalização perversa, poderão servir a outros objetivos se forem postos ao serviço de outros fundamentos sociais e políticos.
Plano Empírico - Enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes, graças ao progresso da informação. Produção de uma população aglomerada em áreas cada vez menores.
Plano Teórico - Possibilidade de produção de um novo discurso, um novo relato, que por sua vez ganha relevância pelo fato de que, pela primeira vez na história do homem, constata-se a existência de uma universalidade empírica, que deixa de ser apenas uma elaboração abstrata na mente dos filósofos e passa a ser resultado da experiência ordinária de cada homem.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10ªed. Rio de Janeiro: Record, 2003.